terça-feira, 5 de junho de 2012

Beagá, o paraíso do Dentuço

Ronaldinho faz primeiro treino no Galo Foto: Divulgacao / AtleticoNo começo de abril, troquei o Rio de Janeiro por Belo Horizonte. Depois de seis anos na capital fluminense, decidi voltar para trilhar um novo caminho na minha vida, tanto profissional como pessoal. Dois meses depois, Ronaldinho fez a mesma viagem, talvez com os mesmos objetivos que eu.

Quando surgiram as primeiras notícias sobre as negociações do Dentuço com o Atlético, fui contra a contratação. Ronaldinho teve a chance de reescrever sua história no futebol quando voltou para o Brasil. Poderia pagar uma “dívida” com o Grêmio, o clube que o revelou e para o qual ele torce até hoje, por mais que isso pareça irreal.

Mas ele sabia que em Porto Alegre teria de mostrar serviço, reconquistar uma torcida que o tem atravessado na garganta. Teria de ralar em campo e fora dele, mostrar um comprometimento além do cobrado de um atleta profissional comum. Seria como um namoro reatado após uma traição de um dos lados. Escolheu o caminho mais fácil e atraente. Foi para o Rio, cidade que não dorme, onde os pagodes acontecem de segunda a segunda, até amanhecer.

O maior pecado de Ronaldinho foi acreditar que bastava ser boleiro para ter sucesso no futebol brasileiro. Mas esse tempo já passou. O Brasil tem bons jogadores, gente que não quer mais se aventurar fora dos grandes centros europeus. Junto a isso, existe o fato de o cara não receber. Por mais que você não precise de dinheiro, ninguém gosta de trabalhar de graça, e ele não pode ser condenado por isso.

Quando o negócio se tornou iminente, apareceram muitos jornalistas querendo ser o “pai da notícia”, cravando sem nenhuma fonte que tudo estava acertado para depois tentar se vangloriar de ter noticiado primeiro. Uma lástima. A verdade é que a contratação de Ronaldinho pegou todo mundo de surpresa, mas não deveria. Para onde poderia ir o Dentuço?

Ronaldinho dificilmente iria para outro clube do Rio. A mesma torcida do Flamengo que o colocou como deus iria persegui-lo pela cidade. No Sul, as chances também eram remotas. As portas estão fechadas no Grêmio, e por mais que fosse um belo tapa de luvas do Inter em seu maior rival, não há espaço para ele hoje no time.

Também não vejo o Dentuço jogando por um clube de São Paulo, onde a pressão é enorme, e quando as coisas não estão bem, a torcida costuma invadir treino e até quebrar carro de jogador. Restava a ele então Belo Horizonte, ou algum clube menor no Nordeste ou de sua amada Santa Catarina.

Ronaldinho se considera grande demais para jogar pelo Bahia, Figueirense, ou se aventurar numa Ucrânia da vida. Portanto, ou era Galo e Cruzeiro, ou o futebol chinês. Ele teria mercado na China, e receberia um caminhão de dinheiro, mas abriria mão de disputar a Copa do Mundo, um sonho que ele realmente tem.

O cenário que se desenhou mostrava Beagá como o paraíso para Ronaldinho. Um clube grande, sem a pressão que ele encontraria em outros lugares, e com uma torcida que vai apoiá-lo muito antes de começar a pegar em seu pé. Muita gente criticou, muita gente ficou no lugar comum, afirmando que “só o tempo dirá” se foi um acerto do Atlético. Óbvio.
Foto: Divulgacao / Atletico

Pelo histórico, eu não apostaria em Ronaldinho. Se ele não quis mostrar serviço no Flamengo, por que faria isso pelo Galo? Mas entendo a diretoria do Atlético em apostar no Dentuço. Não acredito que ele vá ganhar “apenas” R$ 300 mil por mês, mas também aposto que não receberá o salário que supostamente receberia no Fla.

Ronaldinho é uma contratação pontual do Atlético. O time precisa de um jogador exatamente com as características dele. Alguns criticaram a contratação dizendo que vai atrapalhar o jovem Bernard, mas discordo. Não se pode colocar nas costas de um garoto de 19 anos a responsabilidade de armar as jogadas de um dos maiores clubes do país.

Se Cuca souber trabalhar e Ronaldinho tiver um mínimo de boa vontade, Bernard terá uma ótima oportunidade de aprender, de se tornar um jogador melhor, e poderá amadurecer sem a cobrança que teria esse ano.
Toda contratação é uma aposta, não importa o nome. Grandes jogadores não vingaram em grandes equipes. Foi assim com Shevchenko no Chelsea, Kaká no Real Madrid, e a lista continuará crescendo. Comparando a uma rodada de poker, Ronaldinho já foi um Royal Flush. Não é mais e nem será. Mas ainda é uma Trinca. Não é a melhor mão, mas é o suficiente para garantir importantes vitórias, especialmente pra quem está acostumado a apostar todas as suas fichas com um par de dois nas mãos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Para refletir

Capa de 14 de maio de 2012 do jornal Liverpool Echo
Os campeonatos estaduais terminaram. Parabéns a todos os campeões, que têm muito a comemorar. Mas hoje não escrevo sobre futebol, porque, apesar de muita gente não perceber isso por aqui, existe coisa mais importante que o esporte bretão.

O jornal Liverpool Echo, o principal da região de Merseyside, na Inglaterra, pede em sua capa de hoje o fim da “loucura” dos assassinatos com arma de fogo na região. Uma manchete dessas causa surpresa, porque o Reino Unido é um dos que menos sofre no mundo com a violência. E logo que você lê todo o texto da capa, percebe o quanto estamos distantes de nos tornar um país de “primeiro mundo”.

A “loucura” à qual o jornal se refere são 25 assassinatos entre 2005 e 2012. Isso mesmo. VINTE E CINCO mortes causadas por armas de fogo em um período de SETE ANOS. Uma média de 2,8 assassinatos por ano!

Esta estatística assustadora me fez procurar um número no Brasil pra tentar comparar. Escolhi Belo Horizonte por razões óbvias. No ano passado foram assassinadas 782 pessoas na capital mineira. Em Betim, na região metropolitana, 254 foram mortas.

A região de Merseyside, que tem Liverpool como principal cidade, possui cerca de 1,4 milhão de habitantes. Beagá tem 2,4 milhões e Betim quase 400 mil.

Quando vi o “desespero” do Liverpool Echo por conta de 25 mortes em sete anos, minha primeira reação foi esboçar um leve sorriso, acompanhado pelo pensamento “esses caras estão de brincadeira por fazer um alarde desses para esse número ridículo”. Mas eles não estão, e nem deveriam estar. Nós é que estamos de brincadeira, em aceitar tão passivamente o massacre que nos acostumamos a ver. E olha que Beagá nem é considerado um lugar violento.

Vale refletir. Crescimento econômico é muito diferente de desenvolvimento. Muita gente comemorou quando ultrapassamos o Reino Unido e assumimos o posto de sexta maior economia do mundo. Sinceramente, comemorar o que?

domingo, 22 de abril de 2012

Politicamente Correto Futebol Clube

Futebol anda chato demais. Tão chato que demoramos quase quatro meses completos para o ano começar. E aí, quando começa, quando as partidas passam a ser mais importantes, os gols passam a ser mais comemorados, todo mundo de repente começa a se sentir ofendido. Um gesto sem importância vira a maior ofensa que um jogador pode sofrer.

O atacante Alessandro fez um sinal de “acabou” depois de marcar o terceiro do América-MG sobre o Cruzeiro. O Coelho vencia o clássico por três a zero. No finzinho tomou dois, e acabou com uma vitória magra, mas importante, já que reverteu a vantagem cruzeirense na semifinal e entra no jogo de volta precisando de um empate para ir à decisão do Mineiro.

Mas foi só acabar a partida que o gesto de Alessandro virou a coisa mais importante do mundo. O goleiro Fábio, que dá entrevistas parecidas com um culto evangélico, disse que o atacante do América era um frustrado porque nunca conseguiu vingar no Cruzeiro. Afirmou ainda que o gesto foi uma ofensa num jogo de futebol profissional.

Sinceramente, Alessandro simplesmente demonstrou algo que todo mundo pensava naquele exato momento. Estava acabado. Parabéns ao Cruzeiro, que conseguiu reagir e vai para o jogo de volta precisando de uma vitória simples para se classificar.

E essa reação se deve em muito ao meia Roger, autor do segundo gol cruzeirense nos minutos finais do clássico. E depois do apito final, eis que Roger também foi lá criticar Alessandro, alegando “falta de respeito” na comemoração. Ele só se esqueceu de que durante a semana, ele mesmo, ao se referir ao clássico deste domingo, tratou o América como um “timezinho até que bom”.

Roger também se esqueceu de que após o clássico contra o Atlético, em que o Cruzeiro perdia por dois a zero e conseguiu buscar o empate, deixou o gramado mostrando seis dedos para a torcida atleticana, lembrando a goleada por seis a um sobre o Galo que livrou o Cruzeiro do rebaixamento. Virou herói dos cruzeirenses, os mesmos que agora olham para Alessandro como se ele tivesse passado a mão na bunda de suas mães.

Tirar onda do rival faz parte. Se incomodar com isso é hipocrisia. E dizer que um simples gesto foi o responsável por fazer o time “crescer”, “reagir” etc. é uma ofensa, aos torcedores e ao clube, que paga salários altos demais para alguém resolver jogar bola simplesmente porque se sentiu ofendidinho.

Faltam Vampetas no futebol, enquanto sobram jogadores pasteurizados que só sabem agradecer a Deus, respeitar o adversário, buscar os três pontos e fazer o que o professor mandou.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Chefão da Virgin Trains pede mudança de horário da final da FA Cup

O chefão da Virgin Trains, Sir Richard Branson, está defendendo a mudança de horário da final da FA Cup, entre Liverpool e Chelsea, que será disputada no dia 5 de maio, em Wembley, Londres. A decisão da Federação Inglesa de marcar o jogo para as 17h30 (horário da Inglaterra) gerou muita polêmica em Liverpool.

Tudo por causa de uma interrupção do sistema ferroviário na noite de 5 de maio, o que impossibilitaria os torcedores dos Res de voltar para Liverpool após a partida.

"A Federação Inglesa preferiu ignorar o alerta feito pela Virgin e a Network Rail sobre os impactos da realização da partida neste horário, em vez de as 15h (horário da Inglaterra), como tradicionalmente sempre aconteceu", disse Branson em uma carta enviada ao jornal "Liverpool Echo".

Segundo o magnata, a interrupção das viagens entre Londres e Liverpool no dia 5 de maio já estava programada há dois anos, e faz parte de um plano de reforma das linhas de trem. A última viagem entre as duas cidades no dia partirá da capital britânica às 20h10 (horário da Inglaterra), ou seja, sem tempo suficiente para que os torcedores dos Reds chegassem à estação.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A triste verdade em letras garrafais

Pare o que você está fazendo. Vá até o banheiro e coloque-se diante do espelho. Agora, olhe atentamente para seu rosto. Preste bastante atenção à sua testa. Talvez você não tenha percebido, mas está escrito OTÁRIO – assim, em letras garrafais, ou caps lock, como você preferir.

Sim, meu amigo, somos um bando de otários. Pelo menos eu e você, que não somos agraciados com as tão desejadas pulseirinhas coloridas que separam os “very importants” da ralé (nós). Roger Waters acabou de passar pelo Brasil com sua turnê “The Wall”. O show é sensacional. Começa com uma projeção da palavra “capitalismo” em letras que lembram a logomarca da Coca-Cola, faz uma homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes – assassinado por engano no metrô de Londres em 2005 ao ser confundido pela Polícia com um terrorista – e tem até participação de crianças carentes.

O que o ex-Pink Floyd provavelmente não sabe é que, para assisti-lo ao vivo, temos de passar por uma série de abusos. Abusos que se repetem a cada vez que uma multidão se reúne em torno de algum espetáculo.
divulgação

Quem foi ao show de Roger Waters em São Paulo no começo da semana teve de desembolsar até R$ 150,00 (isso mesmo, cento e cinquenta reais, não é um erro de digitação) nas mãos de um flanelinha para estacionar o carro na rua. Na saída, muitos encontraram seus carros depredados e furtados. Para completar a ‘noite de sonhos’, um arrastão esperava por quem estava indo embora. É uma nova modalidade que tem tudo para pegar no Brasil: o assalto triplo. Na mesma noite, o sujeito é extorquido, furtado e roubado.

Isso no dia do show, porque o assalto começa muito antes. O Brasil tem um dos ingressos mais caros que se tem notícia. Também fomos os criadores da incompreensível “pista vip”, um jeitinho que os organizadores arrumaram para arrancar mais dinheiro de quem está ali porque ama o artista, e não para aparecer em coluna social.

Não satisfeitos, inventaram uma ‘taxa de conveniência’ – que fica entre 15% e 20% do valor da entrada – para você retirar o ingresso na bilheteria. Conveniência de quem? Minha e sua, com certeza, não é.

O Brasil entrou com força no circuito dos shows internacionais. Paul McCartney anda tocando por aqui mais que o Roupa Nova. E pode ter certeza que não é porque descobriu que ama os fãs brasileiros, mas porque o dinheiro está entrando, enquanto em boa parte do mundo a crise anda brava.

Quem me conhece sabe que é mais fácil eu falar mal da minha mãe que de um beatle, mas não dá mais para ser ingênuo e romântico.

A esperança é de que, com o aumento da oferta de shows, o público comece a selecionar mais, a procura caia, e os organizadores se vejam forçados a pegar um pouco mais leve no estupro. Porque, sinceramente, cansei de ser VIP – Very Idiotic Person.

sábado, 31 de março de 2012

“Vergonha na cara”

Ser brasileiro envolve algumas particularidades que nos torna um povo distinto. Costumamos rir da própria desgraça, fazer vista grossa para as injustiças sociais, utilizar de nosso especial jeitinho para sobreviver. À primeira vista, parecem virtudes de um povo em sua maioria sofrido, que se apega às pequenas alegrias para seguir em frente.

O problema é que, na verdade, isso tudo acaba mascarando uma sociedade passiva, explorada porque aceita esta condição, imposta por anos e anos de regime mão de ferro. Hoje, 31 de março, é aniversário do Golpe Militar de 1964, um dos capítulos mais vergonhosos da História do Brasil.

Ontem, militares se reuniram no centro do Rio de Janeiro para comemorar o que eles chamam de “revolução”. Quem foi lá protestar, tomou tapa na orelha. Normal. A ditadura, em seu modelo tradicional, terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves. Mas a herança destes anos de chumbo está aí, e promete durar muito tempo.

A torcida do Atlético-MG resolveu estender uma faixa com a frase “vergonha na cara” nos jogos do clube. Não faltam motivos aos torcedores do Galo para protestar, mas não citarei nenhum deles por um motivo: somos livres para manifestar contra o que nos desagrada, desde que sem estimular a violência ou ofender terceiros.

Pelo menos, deveríamos ser. A faixa foi censurada pela Polícia Militar de Minas Gerais, sob o argumento de que era ofensiva, justificativa rechaçada pelo próprio presidente do Atlético, Alexandre Kalil. No vídeo abaixo, feito pelo torcedor Rafael Bruno e hospedado no site da torcida “Camisa 12”, podemos ver os policiais em sua mais pura essência opressora, digna de elogios de qualquer medalhão fardado dos anos 60.



Pedir vergonha na cara não é ofensivo, é um direito de cada um de nós. Na verdade, este protesto deveria ser estimulado. Devíamos ter faixas de “vergonha na cara” em frente ao Congresso, ao Senado, diante das sedes de governos estaduais e de prefeituras... devíamos ter faixas de “vergonha na cara” em frente às câmaras de vereadores, que abrigam “peixes pequenos”que, por conta disso, acreditam estar livres para fazer o que quiserem.

E principalmente devíamos estender faixas de “vergonha na cara” na frente de cada delegacia do país, para lembrar a essa Polícia a quem ela deve servir e proteger. Para lembrar que os próprios policiais não estão acima da lei, apesar de a maioria deles nem saber o que isso significa.

Falta muita vergonha na cara desse país. Falta vergonha até na minha cara e na sua, que lê este texto, porque ficamos indignados, mas continuamos passivos diante de tudo. A Polícia da ditadura batia para depois perguntar o que aconteceu. Prendia para depois procurar saber o que tinha acontecido, isso quando se dava a este trabalho.

A herança está aí, nada mudou. Tudo segue exatamente como antes no quartel de Abrantes. E a gente, com nosso jeitinho especial, continua de boca fechada, cabeça baixa, fazendo de conta que tudo está bem. E segue tomando tapa na orelha. Na orelha, e na cara sem vergonha. “Normal”.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Mais um gênio que se vai

Millôr Fernandes / Divulgação
Não contente em levar Chico Anysio na última sexta (23), a morte voltou ontem para buscar Millôr Fernandes, um dos mais importantes intelectuais que o Brasil viu nascer.

Dramaturgo, desenhista, poeta, jornalista, humorista. Millôr era, antes de tudo, um verdadeiro inconformado com as injustiças desse país.

E como este blog tem como objetivo misturar cultura, sociedade e bola, vou usar a própria genialidade de Millôr para homenageá-lo, com algumas de suas frases ligadas ao esporte bretão:

"O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia."

"E no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol."

Millôr Fernandes / Divulgação

"Ninguém joga futebol tão bem quanto o brasileiro. Isso porque o futebol e o Brasil são iguaizinhos; não têm lógica."

"O futebol chega ao máximo do descrédito - é decidido nos pênaltis, com exigência de tempo ditada pela tevê. Vai acabar sendo disputado na porrinha."

"Mal comparando, Platão era o Pelé da filosofia."

"Em 1978, lembram? O Brasil, já na técnica da retranca, perdeu a copa invicto. Empatou todas. Inventamos uma coisa extraordinária: a Invictória."

Millôr Fernandes / Divulgação


Descanse em paz, mestre.
28/03/2012

terça-feira, 27 de março de 2012

E tem trouxa que acredita

O Corinthians demitiu Adriano por justa causa. Em minha humilde opinião, o clube paulista foi rigoroso demais. Afinal, foram apenas 67 faltas ao trabalho, além de se apresentar algumas vezes bêbado.
Ora, quem nunca inventou uma desculpa para faltar ao trabalho? Resposta: Adriano, que se limitava a informar por telefone ou mensagens de texto – algumas delas de madrugada mesmo – que não trabalharia no dia seguinte.
Nesse ponto, Adriano é digno de elogios. Assumiu seu verdadeiro “eu interior”, o famoso “se quiser me amar, tem de me aceitar como sou”.
Hoje, a imprensa carioca comemora o fato de ele ter ido a um encontro com José Luiz Runco, médico do Flamengo. E ele até chegou “alguns minutos mais cedo”. Ainda tem muita gente que ama Adriano como ele é. Uma nação inteira, como dizem aqui no Rio.

sábado, 24 de março de 2012

Robinho, dez anos pedalando em busca de algo impossível

Santos, 24 de março de 2002. Apenas 1099 torcedores foram à Vila Belmiro naquele domingo para assistir à vitória do Santos sobre o Guarani pelo Torneio Rio-São Paulo. No finzinho da partida, o técnico Celso Roth tirou o meia Robert, autor dos dois gols santistas, para lançar um menino que recentemente tinha sido promovido da base.
Robinho completa neste sábado dez anos como profissional. Uma carreira que inclui as camisas de alguns dos mais tradicionais clubes do mundo. Também não lhe faltam títulos. Foi campeão por Santos, Real Madrid e Milan. Pela seleção brasileira, venceu a Copa das Confederações em 2005 e 2009, e disputou as Copas de 2006 e 2010. Tudo dentro da mais perfeita simetria, certo? Não se você deseja algo que nunca poderá conquistar.
Apenas nove meses depois de ser lançado por Celso Roth - e aposto que você nem se lembrava disso -, Robinho pedalava em um Morumbi lotado para dar o título brasileiro ao Santos, uma equipe que, naquela época, vivia apenas das glórias dos tempos de Pelé.
A habilidade com a bola nos pés lhe rendeu apelido de Robson Arantes do Nascimento, e a expectativa de que seria um dos maiores do futebol. Mas para entrar para a História, é preciso mais que isso, e o que faltava a ele há dez anos, falta ainda hoje.
A primeira grande lição que Robinho poderia ter aprendido veio com a seleção. Astro de um time que prometia trazer a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, não conseguiu passar do pré-olímpico. Com o fracasso vem a cobrança, e a chance de crescer. Mas Robinho não cresceu.
Quando chegou à conclusão de que não queria mais o Santos, fez pirraça, emburrou, e foi negociado com o Real Madrid. Foi campeão espanhol duas vezes, mas ainda não estava satisfeito. Em 2008, seduzido pelo milionário Chelsea de Felipão, forçou a transferência mais uma vez. Não conseguiu, e como castigo acabou indo parar no Manchester City, em uma negociação de 43 milhões de euros, recorde do futebol inglês à época.
No City, um novo milionário com muitos petrodólares para gastar, mas uma equipe ainda em formação, Robinho também não foi feliz. Manchester é uma cidade fria, sem muita coisa para fazer quando não se está trabalhando. Também sentiu falta dos companheiros brasileiros. Deve ter sido uma missão duríssima recrutar ingleses para formar a roda de pagode.
Depois de dois anos nessa vida infernal – período em que chegou a ter seu nome envolvido num suposto caso de estupro –, Robinho fez o que de melhor sabe quando não está satisfeito: pirraça. Arrancou um empréstimo para o Santos, e emendou com uma transferência para o Milan, onde poderia ser feliz de novo, sem muito frio e cercado de gente para desfilar seu talento no pandeiro.
Aos 28 anos, Robinho parece ter se reencontrado. Mais que isso, o futebol parece ter reencontrado Robinho. Não que ele tenha retomado as atuações que lhe valeram o sobrenome de Pelé há dez anos. As pedaladas já não são as mesmas, e nunca mais serão.
Robinho agora parece ter atingido a estabilidade em sua carreira. Joga por um grande clube, é titular em algumas partidas, banco em outras, marca seus gols e a vida segue. Tem uma carreira brilhante, foi aplaudido em alguns dos estádios mais importantes e imponentes do mundo, ganhou - e ainda ganha - muito dinheiro, é atração por onde passa.
Mas nunca se sentirá realizado, porque não atingiu – nem atingirá – o único e verdadeiro objetivo que traçou para sua carreira: ser o melhor do mundo. Não que lhe faltasse talento. Faltou algo que ele poderia ter aprendido cedo, logo em sua primeira grande lição no futebol, no fatídico pré-olímpico para Atenas, mas que passou batido, e até hoje parece não ter entrado em sua cabeça: para entrar para História é preciso crescer. E Robinho nunca cresceu.

quinta-feira, 22 de março de 2012

To beer or not to beer?

Eu gosto de cerveja. Também gosto de futebol. Logo, nada mais natural que ambos caminhem lado a lado para mim. Esclarecido este ponto, vamos ao que interessa, porque a questão aqui não é o que eu gosto, ou o que você gosta. Vai bem mais além.

Quando Pedro Álvares Cabral firmou com a Fifa o compromisso de organizar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, já havia uma cláusula no texto redigido por Pero Vaz de Caminha afirmando que teríamos cerveja nos estádios.

Nada mais natural. Na África do Sul foi assim, na Alemanha também... E por um motivo muito simples: um dos principais patrocinadores do Mundial vende um tipo de bebida, e não é leite ou suco de tamarindo. Não sou especialista em marketing, mas imagino que nenhuma empresa depositaria milhões de dólares em um evento em que não poderia comercializar seu produto porque ele supostamente estimularia a violência.
Só que, por algum motivo, o Estatuto do Torcedor, em 2003, estipulou a proibição da venda de bebidas alcoólicas em estádios. Tudo levava a crer que esta seria apenas mais uma das leis que não pegaram no Brasil, até que, no dia 25 de abril de 2008, Ricardo Teixeira, o nosso Jabba the Hutt, resolveu barrar a cerveja no país.

Criou-se então o impasse: de um lado, um compromisso assinado pelo Governo para a organização do evento – vale lembrar que foi o Brasil que se candidatou para receber a Copa, e não a Fifa que veio aqui pedir o país emprestado; do outro, um grupo de políticos – a Frente Parlamentar Evangélica – que comprou a briga como uma questão de soberania nacional.
E são essas três palavrinhas – Frente Parlamentar Evangélica – que me incomodam... Querem proibir a venda por ir de encontro ao que diz uma lei, por medo da suposta violência que o consumo exagerado causaria, ou porque “Deus não quer”?

Leis que não são cumpridas temos aos montes. Eu, pelo menos, nunca fui defendido por um deputado depois de passar mais de uma hora numa fila de banco. O argumento da violência também não me convence. Afinal, de nada adianta proibir a venda dentro dos estádios e permiti-la nos arredores, onde qualquer um pode encher a cara até pouco antes de entrar para ver a partida. Sem contar que vários países – como a Inglaterra – já provaram que é possível combater com sucesso a violência sem precisar abrir mão da venda de bebidas alcoólicas.

Resta, portanto, uma última razão: confesso que não tenho conversado muito com Deus nos últimos tempos, mas acredito que ele, assim como eu, preferiria ver seus “representantes” em Brasília abraçando causas mais urgentes.

Porque, sinceramente, se nossos deputados se empenhassem mais em melhorar a educação, a saúde, em combater a fome e o desemprego, Deus teria um pouco mais de tempo livre. Talvez até o suficiente para assistir a uma partida de futebol enquanto bebe uma cerveja.