sábado, 24 de março de 2012

Robinho, dez anos pedalando em busca de algo impossível

Santos, 24 de março de 2002. Apenas 1099 torcedores foram à Vila Belmiro naquele domingo para assistir à vitória do Santos sobre o Guarani pelo Torneio Rio-São Paulo. No finzinho da partida, o técnico Celso Roth tirou o meia Robert, autor dos dois gols santistas, para lançar um menino que recentemente tinha sido promovido da base.
Robinho completa neste sábado dez anos como profissional. Uma carreira que inclui as camisas de alguns dos mais tradicionais clubes do mundo. Também não lhe faltam títulos. Foi campeão por Santos, Real Madrid e Milan. Pela seleção brasileira, venceu a Copa das Confederações em 2005 e 2009, e disputou as Copas de 2006 e 2010. Tudo dentro da mais perfeita simetria, certo? Não se você deseja algo que nunca poderá conquistar.
Apenas nove meses depois de ser lançado por Celso Roth - e aposto que você nem se lembrava disso -, Robinho pedalava em um Morumbi lotado para dar o título brasileiro ao Santos, uma equipe que, naquela época, vivia apenas das glórias dos tempos de Pelé.
A habilidade com a bola nos pés lhe rendeu apelido de Robson Arantes do Nascimento, e a expectativa de que seria um dos maiores do futebol. Mas para entrar para a História, é preciso mais que isso, e o que faltava a ele há dez anos, falta ainda hoje.
A primeira grande lição que Robinho poderia ter aprendido veio com a seleção. Astro de um time que prometia trazer a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, não conseguiu passar do pré-olímpico. Com o fracasso vem a cobrança, e a chance de crescer. Mas Robinho não cresceu.
Quando chegou à conclusão de que não queria mais o Santos, fez pirraça, emburrou, e foi negociado com o Real Madrid. Foi campeão espanhol duas vezes, mas ainda não estava satisfeito. Em 2008, seduzido pelo milionário Chelsea de Felipão, forçou a transferência mais uma vez. Não conseguiu, e como castigo acabou indo parar no Manchester City, em uma negociação de 43 milhões de euros, recorde do futebol inglês à época.
No City, um novo milionário com muitos petrodólares para gastar, mas uma equipe ainda em formação, Robinho também não foi feliz. Manchester é uma cidade fria, sem muita coisa para fazer quando não se está trabalhando. Também sentiu falta dos companheiros brasileiros. Deve ter sido uma missão duríssima recrutar ingleses para formar a roda de pagode.
Depois de dois anos nessa vida infernal – período em que chegou a ter seu nome envolvido num suposto caso de estupro –, Robinho fez o que de melhor sabe quando não está satisfeito: pirraça. Arrancou um empréstimo para o Santos, e emendou com uma transferência para o Milan, onde poderia ser feliz de novo, sem muito frio e cercado de gente para desfilar seu talento no pandeiro.
Aos 28 anos, Robinho parece ter se reencontrado. Mais que isso, o futebol parece ter reencontrado Robinho. Não que ele tenha retomado as atuações que lhe valeram o sobrenome de Pelé há dez anos. As pedaladas já não são as mesmas, e nunca mais serão.
Robinho agora parece ter atingido a estabilidade em sua carreira. Joga por um grande clube, é titular em algumas partidas, banco em outras, marca seus gols e a vida segue. Tem uma carreira brilhante, foi aplaudido em alguns dos estádios mais importantes e imponentes do mundo, ganhou - e ainda ganha - muito dinheiro, é atração por onde passa.
Mas nunca se sentirá realizado, porque não atingiu – nem atingirá – o único e verdadeiro objetivo que traçou para sua carreira: ser o melhor do mundo. Não que lhe faltasse talento. Faltou algo que ele poderia ter aprendido cedo, logo em sua primeira grande lição no futebol, no fatídico pré-olímpico para Atenas, mas que passou batido, e até hoje parece não ter entrado em sua cabeça: para entrar para História é preciso crescer. E Robinho nunca cresceu.

6 comentários:

  1. Otimo texto. otima analise!

    ResponderExcluir
  2. Excelente análise, sem idolatrias bobas e com muito realismo. Nota 10.

    ResponderExcluir
  3. Valeu gente! Continuem lendo. Vou tentar atualizar pelo menos a cada dois dias!

    ResponderExcluir
  4. Outro texto belíssimo! Aprendeu bem hein turco!!

    ResponderExcluir
  5. Esse texto ficou muito bom, excelente mesmo. Parabéns, realmente nota 10.

    ResponderExcluir
  6. Valeu, gente!!! Opinião de amigo e quase parente não vale muito, mas faz muito bem pro ego! hahaha

    ResponderExcluir