terça-feira, 5 de junho de 2012

Beagá, o paraíso do Dentuço

Ronaldinho faz primeiro treino no Galo Foto: Divulgacao / AtleticoNo começo de abril, troquei o Rio de Janeiro por Belo Horizonte. Depois de seis anos na capital fluminense, decidi voltar para trilhar um novo caminho na minha vida, tanto profissional como pessoal. Dois meses depois, Ronaldinho fez a mesma viagem, talvez com os mesmos objetivos que eu.

Quando surgiram as primeiras notícias sobre as negociações do Dentuço com o Atlético, fui contra a contratação. Ronaldinho teve a chance de reescrever sua história no futebol quando voltou para o Brasil. Poderia pagar uma “dívida” com o Grêmio, o clube que o revelou e para o qual ele torce até hoje, por mais que isso pareça irreal.

Mas ele sabia que em Porto Alegre teria de mostrar serviço, reconquistar uma torcida que o tem atravessado na garganta. Teria de ralar em campo e fora dele, mostrar um comprometimento além do cobrado de um atleta profissional comum. Seria como um namoro reatado após uma traição de um dos lados. Escolheu o caminho mais fácil e atraente. Foi para o Rio, cidade que não dorme, onde os pagodes acontecem de segunda a segunda, até amanhecer.

O maior pecado de Ronaldinho foi acreditar que bastava ser boleiro para ter sucesso no futebol brasileiro. Mas esse tempo já passou. O Brasil tem bons jogadores, gente que não quer mais se aventurar fora dos grandes centros europeus. Junto a isso, existe o fato de o cara não receber. Por mais que você não precise de dinheiro, ninguém gosta de trabalhar de graça, e ele não pode ser condenado por isso.

Quando o negócio se tornou iminente, apareceram muitos jornalistas querendo ser o “pai da notícia”, cravando sem nenhuma fonte que tudo estava acertado para depois tentar se vangloriar de ter noticiado primeiro. Uma lástima. A verdade é que a contratação de Ronaldinho pegou todo mundo de surpresa, mas não deveria. Para onde poderia ir o Dentuço?

Ronaldinho dificilmente iria para outro clube do Rio. A mesma torcida do Flamengo que o colocou como deus iria persegui-lo pela cidade. No Sul, as chances também eram remotas. As portas estão fechadas no Grêmio, e por mais que fosse um belo tapa de luvas do Inter em seu maior rival, não há espaço para ele hoje no time.

Também não vejo o Dentuço jogando por um clube de São Paulo, onde a pressão é enorme, e quando as coisas não estão bem, a torcida costuma invadir treino e até quebrar carro de jogador. Restava a ele então Belo Horizonte, ou algum clube menor no Nordeste ou de sua amada Santa Catarina.

Ronaldinho se considera grande demais para jogar pelo Bahia, Figueirense, ou se aventurar numa Ucrânia da vida. Portanto, ou era Galo e Cruzeiro, ou o futebol chinês. Ele teria mercado na China, e receberia um caminhão de dinheiro, mas abriria mão de disputar a Copa do Mundo, um sonho que ele realmente tem.

O cenário que se desenhou mostrava Beagá como o paraíso para Ronaldinho. Um clube grande, sem a pressão que ele encontraria em outros lugares, e com uma torcida que vai apoiá-lo muito antes de começar a pegar em seu pé. Muita gente criticou, muita gente ficou no lugar comum, afirmando que “só o tempo dirá” se foi um acerto do Atlético. Óbvio.
Foto: Divulgacao / Atletico

Pelo histórico, eu não apostaria em Ronaldinho. Se ele não quis mostrar serviço no Flamengo, por que faria isso pelo Galo? Mas entendo a diretoria do Atlético em apostar no Dentuço. Não acredito que ele vá ganhar “apenas” R$ 300 mil por mês, mas também aposto que não receberá o salário que supostamente receberia no Fla.

Ronaldinho é uma contratação pontual do Atlético. O time precisa de um jogador exatamente com as características dele. Alguns criticaram a contratação dizendo que vai atrapalhar o jovem Bernard, mas discordo. Não se pode colocar nas costas de um garoto de 19 anos a responsabilidade de armar as jogadas de um dos maiores clubes do país.

Se Cuca souber trabalhar e Ronaldinho tiver um mínimo de boa vontade, Bernard terá uma ótima oportunidade de aprender, de se tornar um jogador melhor, e poderá amadurecer sem a cobrança que teria esse ano.
Toda contratação é uma aposta, não importa o nome. Grandes jogadores não vingaram em grandes equipes. Foi assim com Shevchenko no Chelsea, Kaká no Real Madrid, e a lista continuará crescendo. Comparando a uma rodada de poker, Ronaldinho já foi um Royal Flush. Não é mais e nem será. Mas ainda é uma Trinca. Não é a melhor mão, mas é o suficiente para garantir importantes vitórias, especialmente pra quem está acostumado a apostar todas as suas fichas com um par de dois nas mãos.