
Ontem, militares se reuniram no centro do Rio de Janeiro para comemorar o que eles chamam de “revolução”. Quem foi lá protestar, tomou tapa na orelha. Normal. A ditadura, em seu modelo tradicional, terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves. Mas a herança destes anos de chumbo está aí, e promete durar muito tempo.
A torcida do Atlético-MG resolveu estender uma faixa com a frase “vergonha na cara” nos jogos do clube. Não faltam motivos aos torcedores do Galo para protestar, mas não citarei nenhum deles por um motivo: somos livres para manifestar contra o que nos desagrada, desde que sem estimular a violência ou ofender terceiros.
Pelo menos, deveríamos ser. A faixa foi censurada pela Polícia Militar de Minas Gerais, sob o argumento de que era ofensiva, justificativa rechaçada pelo próprio presidente do Atlético, Alexandre Kalil. No vídeo abaixo, feito pelo torcedor Rafael Bruno e hospedado no site da torcida “Camisa 12”, podemos ver os policiais em sua mais pura essência opressora, digna de elogios de qualquer medalhão fardado dos anos 60.
Pedir vergonha na cara não é ofensivo, é um direito de cada um de nós. Na verdade, este protesto deveria ser estimulado. Devíamos ter faixas de “vergonha na cara” em frente ao Congresso, ao Senado, diante das sedes de governos estaduais e de prefeituras... devíamos ter faixas de “vergonha na cara” em frente às câmaras de vereadores, que abrigam “peixes pequenos”que, por conta disso, acreditam estar livres para fazer o que quiserem.
E principalmente devíamos estender faixas de “vergonha na cara” na frente de cada delegacia do país, para lembrar a essa Polícia a quem ela deve servir e proteger. Para lembrar que os próprios policiais não estão acima da lei, apesar de a maioria deles nem saber o que isso significa.
Falta muita vergonha na cara desse país. Falta vergonha até na minha cara e na sua, que lê este texto, porque ficamos indignados, mas continuamos passivos diante de tudo. A Polícia da ditadura batia para depois perguntar o que aconteceu. Prendia para depois procurar saber o que tinha acontecido, isso quando se dava a este trabalho.
A herança está aí, nada mudou. Tudo segue exatamente como antes no quartel de Abrantes. E a gente, com nosso jeitinho especial, continua de boca fechada, cabeça baixa, fazendo de conta que tudo está bem. E segue tomando tapa na orelha. Na orelha, e na cara sem vergonha. “Normal”.